50 anos depois, amostras lunares coletadas pela Apollo 17, ainda revelam segredos sobre vulcões da Lua!
- marcocenturion
- 17 de jun.
- 4 min de leitura
“É como ler o diário de um antigo vulcanólogo lunar”
Notícia
Por Keith Cooper
Traduzido por Marco Centurion
Pequenas esferas de vidro formadas nos incêndios de erupções vulcânicas explosivas na Lua, e trazidas de volta à Terra pela missão Apollo 17, estão finalmente revelando seus segredos.

Surpreendentemente, as amostras de material lunar coletadas pelas missões Apollo continuam proporcionando novas surpresas, mesmo mais de 50 anos depois, neste caso, mostrando como pequenas esferas de vidro que cobrem a superfície lunar nos contam sobre as plumas vulcânicas explosivas que as formaram entre 3,3 e 3,6 bilhões de anos atrás.
“Temos essas amostras há 50 anos, mas agora temos a tecnologia para compreendê-las completamente. Muitos desses instrumentos eram inimagináveis quando as esferas foram coletadas pela primeira vez.”
disse Ryan Ogliore, professor de física da Universidade de Washington em St. Louis, em um comunicado.
As minúsculas esferas, com menos de um milímetro de tamanho, estão incrustadas em rochas lunares e misturadas ao regolito* lunar. Elas aparecem em duas variedades: laranja e preta, e foram produzidas quando gotas de lava, em plumas que irromperam violentamente de vulcões, esfriaram rapidamente no frio vácuo da superfície lunar. Cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, a Lua era drasticamente ativa do ponto de vista vulcânico, formando as manchas escuras dos mares lunares (os maria) que hoje compõem o "rosto" do "Homem da Lua".
*O regolito é uma camada de material solto e fragmentado que cobre a base sólida de planetas, luas, asteroides e outros corpos celestes. É formado pelos processos de intemperismo, erosão e formação de crateras de impacto e pode ser composto por uma variedade de materiais, incluindo fragmentos de rocha, poeira, areia e pequenos grãos minerais.
“As esferas são cápsulas minúsculas e pristinas do interior lunar. Elas estão entre as amostras extraterrestres mais incríveis que temos.”
disse Ogliore.
Ogliore fez parte de uma equipe liderada por Thomas Williams, Stephen Parman e Alberto Saal, da Universidade Brown, em Rhode Island, que utilizou uma variedade de técnicas modernas de análise microscópica nas esferas para aprender mais sobre as condições vulcânicas nas quais elas se formaram.
O principal instrumento utilizado foi uma microsonda de íons NanoSIMS 50*, da Universidade de Washington, que pode realizar espectrometria em escala atômica, identificando elementos e isótopos e investigando a estrutura em nanoescala.
*A NanoSIMS 50L é uma microssonda iônica exclusiva que otimiza o desempenho de análises da SIMS (Espectrômetro de Massa de Íons Secundários) em alta resolução lateral. Baseia-se em um projeto óptico coaxial do feixe de íons e na extração de íons secundários, e em um analisador de massa de setor magnético original com multicoleta.
Para evitar que o material fosse exposto à atmosfera terrestre e reagisse com o oxigênio, o feixe de íons perfurou as amostras, extraindo as esferas de dentro delas e, em seguida, garantindo que o material fosse protegido do contato com a nossa atmosfera. As amostras foram então submetidas a várias técnicas de análise, incluindo tomografia por sonda de átomos, microscopia eletrônica de varredura e espectroscopia de raios X por dispersão de energia.
“Mesmo com as técnicas avançadas que usamos, essas foram medições muito difíceis de fazer”, disse Ogliore.
Segundo a equipe, as medições forneceram informações sobre a pressão, temperatura e composição química do ambiente no qual as esferas se formaram. Na verdade, a própria existência dessas esferas é uma prova de que a Lua teve erupções explosivas, “algo como as fontes de fogo que você pode ver hoje no Havaí”, disse Ogliore.

No entanto, a cor, a forma e a composição química das esferas de vidro lunares são bastante diferentes das suas contrapartes terrestres.
A análise mostrou que as esferas de vidro são revestidas por uma camada com menos de 100 nanômetros de espessura, depositada nas esferas quando o vapor se condensou a partir das nuvens vulcânicas. Assim, investigar essas nanocamadas fornece informações sobre essas nuvens vulcânicas, a partir das quais podemos aprender mais sobre o vulcanismo lunar.
As nanocamadas na superfície das esferas não são lisas, mas apresentam uma série de formas e inhomogeneidades descritas como "micromontículos", "lamelas", "placas" e "gotículas" (*blebs*). Os micromontículos, em particular, têm uma base mais rica em ferro do que suas superfícies superiores. Esse gradiente de ferro está relacionado à forma como a pressão na pluma vulcânica diminuiu rapidamente no breve intervalo de tempo em que os micromontículos da nanocamada foram depositados.

Tanto as esferas pretas quanto as laranjas estudadas nesta análise foram recuperadas pela missão Apollo 17, em 1972, que foi a única missão a voar com um geólogo especializado a bordo, o estadunidense Harrison Schmitt, do Vale Taurus-Littrow, no Mare Serenitatis.

As esferas pretas são abundantes em nanocristais de sulfeto de zinco, e a modelagem termoquímica dessas esferas indica que hidrogênio e enxofre eram os principais elementos nas plumas de gás vulcânico que as formaram. Por outro lado, as esferas laranjas não apresentam quantidades notáveis de cristais de sulfeto de zinco. Isso sugere uma mudança, ao longo do tempo, nas condições da erupção vulcânica que produziu as esferas pretas e laranjas.
“É como ler o diário de um antigo vulcanólogo lunar”
disse Ogliore.
Embora os achados representem apenas um pequeno detalhe no grande esquema das coisas, eles nos levam um passo mais perto de entender as condições vulcânicas que formaram o Homem da Lua (aquela formação geológica que por questões de pareidolia, nos lembram um rosto humano) e por que esse vulcanismo ocorreu em primeiro lugar.
Os resultados foram publicados online em abril na revista Icarus.
Artigo encontrado em space.com (originalmente publicado em 17/06/2025)
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