Novo objeto interestelar 3I/ATLAS: o que sabemos sobre o raro visitante cósmico até agora?
- marcocenturion
- 7 de jul.
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Como sabemos que o 3I/ATLAS, também chamado de cometa C/2025 N1 (ATLAS), é interestelar? Ele pode atingir a Terra? Podemos visitá-lo? Aqui estão todas as respostas para suas perguntas
Notícia
Por Jamie Carter
Traduzido por Marco Centurion

Astrônomos confirmaram uma descoberta rara e extraordinária: o terceiro objeto interestelar conhecido a entrar no nosso sistema solar.
Chamado de 3I/ATLAS, onde “3I” significa “terceiro interestelar”, e designado como C/2025 N1 (ATLAS), o objeto foi avistado pela primeira vez em 1º de julho de 2025 pelo telescópio remoto Deep Random Survey, no Chile, parte do projeto ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System).
É uma descoberta significativa. Mas o que exatamente ele é?
O astro que, inicialmente recebeu um nome temporário de A11pl3Z, chamou atenção imediata dos astrônomos por causa de seu movimento peculiar. Observações rápidas de acompanhamento e a reanálise de dados anteriores levaram à conclusão preliminar de que o objeto não estava preso à gravidade do Sol. Isso o torna um objeto interestelar, apenas o terceiro já visto, depois do 1I/ʻOumuamua em 2017 e do 2I/Borisov em 2019.
“Se confirmado, será o terceiro objeto interestelar conhecido de fora do nosso sistema solar que descobrimos, fornecendo mais evidências de que tais viajantes interestelares são relativamente comuns em nossa galáxia”
disse Mark Norris, professor de Astronomia na Universidade de Central Lancashire, ao Space.com na época da descoberta do 3I/ATLAS.
O que mais ainda há de empolgante? O 3I/ATLAS é o maior e mais brilhante objeto interestelar já observado, o que significa que pode ajudar os cientistas a desvendar pistas sobre a formação de outros sistemas estelares.
Mas como se sabe que ele é interestelar? Ele pode, eventualmente, colidir com a Terra? Nós podemos enviar uma espaçonave para interceptá-lo? Aqui estão todas as respostas e tudo o mais que você precisa saber sobre essa rara descoberta, inclusive por que ela pode ser apenas a primeira de muitas outras detecções de objetos interestelares.
Como sabemos que o 3I/ATLAS veio de outro sistema estelar?
O que faz com que astrônomos se sintam seguros sobre a natureza interestelar do 3I/ATLAS é sua trajetória.

O objeto segue uma órbita altamente hiperbólica, o que significa que não está gravitacionalmente preso ao Sol. Seu caminho orbital também tem uma excentricidade de 6,2. Para contextualizar, qualquer objeto com excentricidade acima de 1 está em uma trajetória que não retorna ao redor do Sol, implicando que ele vem, e retornará, ao espaço interestelar.
Em comparação, o primeiro visitante interestelar conhecido, 1I/ʻOumuamua, tinha uma excentricidade de cerca de 1,2, e o 2I/Borisov de 3,6. O 3I/ATLAS supera ambos em disparada.
“Alguns cometas de longo período podem ter um encontro com Júpiter que modifica sua órbita para 1,05, ou seja, hiperbólica na saída, mas apenas por pouco. Este aqui é firmemente hiperbólico já na entrada, portanto, interestelar.”
disse Olivier Hainaut, astrônomo do Observatório Europeu do Sul, ao Space.com.
Como o 3I/ATLAS é diferente de 1I/ʻOumuamua e 2I/Borisov?
As dimensões do corpo celeste chamam atenção!

Além da trajetória significativamente hiperbólica, a diferença mais marcante é o tamanho.
“O 3I/ATLAS é muito maior do que os outros dois, tem cerca de 15 quilômetros de diâmetro, com grande margem de incerteza, comparado a 100 metros para o 1I/ʻOumuamua e menos de 1 km para o 2I/Borisov”
disse Hainaut. O 3I/ATLAS pode até ter até 20 km de largura. No entanto, essa conclusão pode mudar com mais observações.
O que é o 3I/ATLAS?
O que o 3I/ATLAS e o 2I/Borisov têm em comum é que ambos são cometas.

Pouco após sua descoberta, sinais de uma cauda semelhantes às de cometas tornaram-se evidentes, dando-lhe a designação adicional de C/2025 N1 (ATLAS), seguindo a convenção de nomeação de cometas.
Como o 1I/ʻOumuamua foi observado apenas quando já estava deixando o sistema solar, os astrônomos tiveram dificuldade em obter dados suficientes para confirmar sua natureza exata, foi de onde as "teorias" surgiram de que poderia ser uma nave alienígena, embora seja quase certo que era um asteroide ou um cometa.
O 3I/ATLAS pode atingir a Terra?
No momento, o 3I/ATLAS está dentro da órbita de Júpiter, a cerca de 520 milhões de km da Terra e 670 milhões de km do Sol.
Ele chegará a aproximadamente 270 milhões de km da Terra em 19 de dezembro e, em nenhum momento, representará uma ameaça. O cometa se aproximará em cerca de 30 milhões de km de Marte em 2 de outubro e chegará a 210 milhões de km do Sol, seu ponto mais próximo (periélio) será em 29 de outubro. No periélio, ele viajará a cerca de 68 km/s, ou aproximadamente 245.000 km/h.
O 3I/ATLAS é visível a olho nu?
Apenas com o equipamento certo e muita paciência.

Atualmente, o 3I/ATLAS está na constelação de Sagitário, no arco da Via Láctea, baixo no horizonte sul quando visto de latitudes médias do hemisfério norte, em julho. Viajando para o sul, tem magnitude 18,5, tornando-o cerca de 2,5 milhões de vezes mais fraco que Polaris, segundo Gianluca Masi, do Virtual Telescope Project, que fotografou o 3I/ATLAS em 3 de julho. Um telescópio com abertura de 150-200 mm e câmera CCD é necessário para capturá-lo, enquanto um telescópio óptico precisaria de abertura em torno de 400 mm.
“Ele não será visível a olho nu, e acredito que será um desafio para um amador, mas alguns possuem equipamentos impressionantes hoje em dia”
disse o professor Martin Barstow, da Universidade de Leicester, ao Space.com.
No entanto, isso pode mudar à medida que ele se aproxima e se espera que ele brilhe mais. “Quando fizer sua aproximação mais próxima, será um alvo relativamente fácil para astrônomos amadores”, disse Norris. Nessa altura, pode atingir magnitude 11. Para a maioria das pessoas, o 3I/ATLAS será uma fascinante história científica, mas não uma oportunidade de observação a olho nu.
Quando os telescópios profissionais irão observá-lo?

A maioria dos grandes observatórios está no hemisfério sul, onde o 3I/ATLAS estará melhor posicionado. Portanto, espere ver muitas imagens compartilhadas nos próximos dias e semanas.
À medida que se aproximar de seu brilhante periélio, ele se perderá no brilho do Sol visto da Terra, então os astrônomos profissionais irão estudá-lo, assim que a Lua cheia sair de cena, provavelmente nas semanas após o último quarto em 18 de julho.
Mais observações são necessárias, já que o que sabemos sobre o 3I/ATLAS é baseado apenas em dados preliminares.
“Foi descoberto há poucos dias e observado apenas com pequenos telescópios. Estamos correndo para colocar os grandes telescópios de olho nele o quanto antes.”
disse Hainaut.
Por que o 3I/ATLAS é tão interessante para os astrônomos?
Embora muito ainda precise ser investigado, já está claro que este objeto é muitas vezes maior que ʻOumuamua e Borisov, tornando-o um alvo melhor para estudo.
Ele pode ser uma oportunidade valiosa para cientistas planetários, pois objetos interestelares oferecem uma conexão possível com outros sistemas estelares e carregam assinaturas químicas que podem fornecer insights sobre como os sistemas planetários se formam, ou até mesmo evidências de vida em outros lugares da galáxia.
“Eles, sem dúvida, carregam assinaturas químicas de fora do sistema solar, então obter observações nos diz muito sobre a possibilidade de material viajando entre sistemas planetários. Se pudéssemos um dia obter uma amostra de um deles, seria uma descoberta incrível.”
disse Barstow.
Podemos enviar uma espaçonave para interceptar o 3I/ATLAS?
Provavelmente não, ele é rápido demais.

Barstow diz que:
“Precisaríamos de uma espaçonave pronta no espaço, totalmente testada e com capacidade de encontro”
A necessidade de ter uma espaçonave em órbita pronta para reagir a um objeto interestelar que se aproxima, como o 3I/ATLAS, já foi considerada. A Agência Espacial Europeia está atualmente preparando sua missão Comet Interceptor para lançamento em 2029, para lidar com cometas intrigantes que aparecem de repente.
“No entanto, mesmo esta missão pode não ser capaz de lidar com a alta velocidade de um viajante interestelar”
complementou.
Embora uma amostra do 3I/ATLAS não seja possível, ela representaria um enorme atalho para os cientistas planetários. “Mesmo com nossos foguetes mais rápidos, levaríamos dezenas de milhares de anos para alcançar estrelas próximas”, disse Norris. “Graças a esses visitantes de fora do nosso sistema solar, talvez não precisemos viajar tão longe para estudar outros sistemas estelares, mas precisaremos de tecnologia para alcançá-los antes que eles passem pelo nosso sistema solar.”
Por que os astrônomos estão encontrando objetos interestelares agora?
Não é coincidência!
“Claramente, nossos telescópios não estão afetando o sistema solar externo, então o fato de encontrarmos mais simplesmente reflete que estamos ficando melhores em detectá-los”
disse Hainaut.
E isso é só o começo. O novo Observatório Vera C. Rubin, que acaba de divulgar suas primeiras imagens, poderá descobrir muitos mais objetos interestelares como o 3I/ATLAS durante seu projeto LSST (Levantamento Sinóptico de Grande Escala) de 10 anos. Pode haver muitos a serem encontrados; um artigo de 2020 estimou que cerca de sete objetos interestelares poderiam passar dentro da distância Terra-Sol do Sol a cada ano. Até agora, simplesmente não éramos capazes de vê-los.
“Será uma melhora dramática”, disse Hainaut sobre o LSST. “Prepare-se para o 4I, 5I... 42I!”
O 3I/ATLAS pode ser o visitante interestelar mais brilhante e maior até agora, mas quase certamente não será o último!
Artigo encontrado no site da agência de divulgação científica estadunidense Space.com (originalmente publicado em 07/07/2025)
Link para acesso ao original: https://www.space.com/astronomy/comets/new-interstellar-object-3i-atlas-everything-we-know-about-the-rare-cosmic-visitor
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