Observações no Sistema TRAPPIST-1, não apresentaram exoplanetas com atmosfera similar à da Terra, até o momento.
- marcocenturion
- há 4 dias
- 4 min de leitura
O instrumento NIRSpec (Espectrógrafo de Infravermelho Próximo) do James Webb não detectou moléculas em TRAPPIST-1 d que são comuns na atmosfera da Terra, como água, metano ou dióxido de carbono.
Notícia
por Agência Espacial Europeia
editado por Gaby Clark, revisado por Robert Egan
Traduzido por Marco Centurion
O exoplaneta TRAPPIST-1 d intriga os astrônomos que buscam por mundos possivelmente habitáveis além do nosso sistema solar, porque é semelhante em tamanho à Terra, rochoso e se encontra em uma região ao redor de sua estrela onde, teoricamente, água líquida poderia existir em sua superfície. Mas, de acordo com um novo estudo utilizando dados do Telescópio Espacial James Webb da NASA/ESA/CSA, ele não possui uma atmosfera semelhante à da Terra.

Com uma atmosfera protetora, um Sol amigável e muita água líquida, a Terra é um planeta especial. Usando as capacidades sem precedentes do Webb, os astrônomos estão em uma missão para determinar quão rara é a nossa casa. Esse ambiente temperado pode existir em outro lugar, até mesmo em torno de um tipo diferente de estrela? O sistema TRAPPIST-1 surge como um candidato tentador para explorar essa questão, pois contém sete mundos do tamanho da Terra orbitando o tipo mais comum de estrela da galáxia, uma anã vermelha.
“Em última análise, queremos saber se algo parecido com o ambiente que temos na Terra pode existir em outro lugar, e sob quais condições. Embora o Telescópio Espacial James Webb nos dê a capacidade de explorar essa questão em exoplanetas do tamanho da Terra pela primeira vez, neste momento podemos descartar o TRAPPIST-1 d da lista de potenciais gêmeos ou primos da Terra”
disse Caroline Piaulet-Ghorayeb, da Universidade de Chicago e do Instituto Trottier de Pesquisa em Exoplanetas (IREx) da Université de Montréal, autora principal do estudo publicado no The Astrophysical Journal e que você pode ler aqui.
O exoplaneta TRAPPIST-1 d
O sistema TRAPPIST-1 está localizado a 40 anos-luz de distância e foi revelado em 2017 como o recordista de maior número de exoplanetas rochosos do tamanho da Terra orbitando uma única estrela, graças a dados do agora aposentado Telescópio Espacial Spitzer da NASA e de outros observatórios.
Devido ao fato de sua estrela ser uma anã vermelha fraca e relativamente fria, a “zona habitável”, região onde a temperatura do exoplaneta pode ser adequada para que a água líquida exista em sua superfície, fica muito mais próxima da estrela do que em nosso sistema solar. O TRAPPIST-1 d, o terceiro exoplaneta a partir da anã vermelha, está no limite dessa zona temperada, mas sua distância até a estrela é de apenas 2% da distância da Terra ao Sol. O exoplaneta TRAPPIST-1 d completa uma órbita inteira em torno de sua estrela em apenas quatro dias terrestres.
O instrumento NIRSpec (Espectrógrafo de Infravermelho Próximo) do Webb não detectou moléculas em TRAPPIST-1 d que são comuns na atmosfera da Terra, como água, metano ou dióxido de carbono. No entanto, Piaulet-Ghorayeb destacou várias possibilidades para o exoplaneta que permanecem abertas para estudos de acompanhamento.
“Há algumas razões potenciais para não detectarmos uma atmosfera em TRAPPIST-1 d. Ele pode ter uma atmosfera extremamente fina, difícil de detectar, semelhante à de Marte. Alternativamente, pode ter nuvens muito espessas em altas altitudes que bloqueiam a detecção de assinaturas atmosféricas específicas, algo mais parecido com Vênus. Ou então pode ser uma rocha estéril, sem atmosfera alguma”
disse Piaulet-Ghorayeb.

A estrela TRAPPIST-1
Seja qual for o caso do exoplaneta TRAPPIST-1 d, não é fácil ser um exoplaneta orbitando uma anã vermelha. TRAPPIST-1, a estrela hospedeira do sistema, é conhecida por ser volátil, frequentemente liberando explosões de radiação de alta energia com potencial para retirar as atmosferas de seus pequenos exoplanetas, especialmente os que orbitam mais próximos.
Mesmo assim, os cientistas estão motivados a procurar sinais de atmosferas nos exoplanetas TRAPPIST-1 porque as anãs vermelhas são as estrelas mais comuns da nossa galáxia. Se exoplanetas conseguirem manter uma atmosfera nesse ambiente, sob ondas de radiação estelar intensa, eles poderiam sobreviver em qualquer lugar.
“Os sensíveis instrumentos infravermelhos do Webb estão nos permitindo investigar as atmosferas desses exoplanetas menores e mais frios pela primeira vez. Estamos realmente apenas começando a usar o Webb para procurar atmosferas em exoplanetas do tamanho da Terra e para definir a linha que separa os exoplanetas que conseguem manter uma atmosfera daqueles que não conseguem.”
disse Björn Benneke, do IREx da Université de Montréal, coautor do estudo.
Os exoplanetas externos de TRAPPIST-1
As observações do telescópio espacial James Webb aos exoplanetas mais externos de TRAPPIST-1 estão em andamento, trazendo tanto potencial quanto desafios. Por um lado, disse Benneke, os exoplanetas e, f, g e h podem ter maiores chances de manter atmosferas, já que estão mais afastados das erupções energéticas de sua estrela hospedeira. No entanto, sua maior distância e ambiente mais frio dificultarão a detecção de assinaturas atmosféricas, mesmo com os instrumentos infravermelhos do JWST.
“Nem toda esperança está perdida quanto às atmosferas ao redor dos exoplanetas de TRAPPIST-1. Embora não tenhamos encontrado uma assinatura atmosférica clara e evidente no exoplaneta d, ainda existe a possibilidade de que os exoplanetas externos estejam retendo bastante água e outros componentes atmosféricos.”
disse Piaulet-Ghorayeb.
“Nossa investigação está apenas começando. Embora TRAPPIST-1 d possa se revelar uma rocha estéril iluminada por uma cruel estrela vermelha, os exoplanetas externos TRAPPIST-1 e, f, g e h podem ainda possuir atmosferas espessas”, acrescentou Ryan MacDonald, coautor do artigo, atualmente na Universidade de St Andrews, no Reino Unido, e anteriormente na Universidade de Michigan. “Graças ao Webb, agora sabemos que TRAPPIST-1 d está muito distante de ser um mundo hospitaleiro. Estamos aprendendo que a Terra é ainda mais especial no cosmos.”
Artigo encontrado no site da agência de divulgação científica estadunidense Phys.org (originalmente publicado em 13/08/2025)
Link para acesso ao original: https://phys.org/news/2025-08-earth-atmosphere-exoplanet-trappist-d.html