Telescópio Gaia detecta comportamento ondulatório no disco da Via Láctea!
- marcocenturion
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Atualizado: há 4 dias
O telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia, detectou uma nova dinâmica na estrutura de nossa galáxia, uma onda em grande escala de estrelas que se propaga das regiões centrais para as bordas externas do disco galáctico.
Pela agência Новая Наука - New-science.ru
Traduzido e adaptado por Marco Centurion

Por décadas, sabia-se que a Via Láctea gira em torno de seu centro e que seu disco é deformado, ou seja, curvado para cima de um lado e para baixo do outro. No entanto, novos dados do Gaia mostram que essa deformação não é estática. Pelo contrário, ela se comporta como uma onda em movimento, uma verdadeira oscilação que afeta vastas áreas do disco galáctico, muito além da localização do Sol.
Ao analisar as distâncias, posições tridimensionais e movimentos de centenas de milhares de estrelas, em particular gigantes jovens e estrelas variáveis como as Cefeidas, uma equipe científica liderada por Eloisa Poggio, do Instituto Nacional de Astrofísica, estabeleceu que esta onda vertical se estende pelo menos de 30.000 a 65.000 anos-luz do centro galáctico. Na verdade, é como se alguém tivesse jogado uma pedra no disco galáctico: sua superfície, composta de estrelas, reage com uma onda que se espalha para fora.
As observações do Gaia, que combinam medições de posições espaciais e movimentos das estrelas, permitem visualizar esse fenômeno em duas projeções, "de cima" e "de lado". Na visão "de cima", a onda aparece como uma alternância de zonas onde as estrelas estão acima ou abaixo do plano central da Via Láctea. Na visão "de lado", vê-se que o disco é entortado, onde de um lado, ele se curva para cima, do outro, para baixo. Esta é uma deformação já conhecida. A ela se soma agora a oscilação vertical descoberta pelo Gaia, visível como uma ondulação adicional sobreposta ao disco.
Os dados do Gaia também mostram que as estrelas se movem verticalmente não no ponto de sua posição mais alta ou mais baixa, mas em uma zona ligeiramente deslocada em relação a ela. Esse comportamento é típico de ondas que se propagam. Uma boa analogia são as ondas na água, em que as partículas de um líquido não se movem apenas para cima e para baixo, mas sim em trajetórias mais complexas. Da mesma forma, as estrelas no disco galáctico aparentemente não estão congeladas na estrutura ondulatória, mas participam de um movimento que se propaga ao longo do disco, como se fossem "carregadas" pela onda.
Para mapear com precisão esse fenômeno, os pesquisadores estudaram dois tipos de estrelas, as gigantes jovens e as Cefeidas. As Cefeidas são particularmente importantes porque sua luminosidade variável permite calcular distâncias com precisão, mesmo em escalas muito grandes. Como essas estrelas acompanham o movimento da onda, os cientistas supõem que o gás do disco galáctico também participa da oscilação. Nesse caso, as estrelas nascidas desse gás conservam em seu movimento uma "memória" do movimento original do material do qual se formaram.
Atualmente, a causa do surgimento dessa onda permanece incerta. Uma hipótese sugere que a grande onda pode ter sido desencadeada por uma interação passada com uma pequena galáxia vizinha. Essa galáxia, talvez já absorvida pela nossa ou ainda em processo de fusão com a Via Láctea, pode ter exercido impacto gravitacional suficiente para perturbar o disco galáctico, criando uma espécie de "empurrão" que deu origem às oscilações observadas.
Outra possibilidade é que a origem da onda seja interna à própria galáxia, como por exemplo, instabilidades no gás do disco ou movimentos irregulares em larga escala podem ter gerado vibrações que foram transmitidas também às estrelas. Em ambos os casos, o que observamos hoje seria o resultado de um evento ocorrido milhões ou mesmo bilhões de anos atrás, mas que deixou um rastro ainda visível na estrutura e no movimento das estrelas do disco.
Se essa onda for real e estável, ela tem implicações importantes para a dinâmica galáctica, ou seja, a estrutura do disco não é uma superfície rígida, mas um sistema dinâmico flexível, que reage a perturbações em larga escala. Isso afetará os modelos de formação e evolução de galáxias, incluindo a distribuição de gás, a formação estelar e a estabilidade dinâmica em escalas de bilhões de anos.
O próximo passo importante será a quarta divulgação de dados do telescópio Gaia, que incluirá informações aperfeiçoadas também sobre estrelas variáveis, como as Cefeidas. Esses dados permitirão criar mapas mais detalhados, necessários para testar hipóteses concorrentes sobre a origem da onda. No futuro, a modelagem numérica da dinâmica galáctica, combinada com dados observacionais, permitirá testar se a onda é temporária ou de longa duração, e como fenômenos locais como esta onda estão ligados a ondas de escala menor ou a outras estruturas do disco.
Artigo encontrado no site da agência de divulgação científica russa New-science.ru (originalmente publicado em 01/10/2025)
Link para acesso ao original: https://new-science.ru/teleskop-gajya-obnaruzhil-gigantskuju-volnu-dvizhushhujusya-po-disku-mlechnogo-puti/
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