Nos últimos dias, notícias sobre um suposto “alinhamento planetário” têm circulado amplamente nas redes sociais e na mídia, despertando curiosidade e, às vezes, confundindo o público. Para esclarecer o que está acontecendo no céu neste início de ano, o Clube de Astronomia Centauri preparou uma explicação detalhada sobre o fenômeno e o que realmente pode ser observado.
Durante este mês de janeiro, alguns dos planetas clássicos estão visíveis no céu, proporcionando um espetáculo fascinante. Porém, eles não estão alinhados.
O que está acontecendo no céu?
Primeiramente, precisamos esclarecer que de fato alguns planetas estão visíveis no céu neste mês de janeiro, como mencionamos em nossas redes sociais e no blog, porém nada se trata de um alinhamento e sim uma conjunção planetária. Ou seja, o que podemos observar é uma distribuição dos planetas ao longo da eclíptica — uma linha imaginária no céu que representa o plano da órbita terrestre em torno do Sol. Essa linha é como um trilho no qual todos os planetas parecem se mover no céu, já que os seus planos orbitais estão inclinados de maneira similar em relação ao Sol. Embora os planetas estejam próximos visualmente nessa linha, eles não estão “alinhados” no espaço tridimensional, nem mesmo enfileirados um atrás do outro.

Como observar os planetas em janeiro?
Mas não perca as esperanças, se o céu estiver limpo, você ainda sim conseguirá observar os principais planetas a olho nú com as dicas do Centauri. Caso você tenha um telescópio com uma abertura de 70 mm ou mais, você conseguirá ainda ver detalhes dos nossos companheiros do sistema solar. Aqui está o que você pode esperar:
Vênus e Saturno: são visíveis logo após o pôr do Sol, próximos ao horizonte oeste.
Júpiter: brilha intensamente e é facilmente reconhecível quase no zênite (o ponto mais alto do céu).
Marte: destaca-se mais a leste, com sua cor avermelhada característica.
Esses planetas estarão visíveis por alguns dias, então aproveite para observar esse espetáculo natural antes que as posições mudem conforme a Terra e os planetas seguem suas órbitas.
A ideia de que todos os oito planetas do Sistema Solar poderiam se alinhar perfeitamente de um lado do Sol é fascinante, mas na prática é extremamente improvável. Isso ocorre devido às suas órbitas variadas, que têm inclinações e períodos muito diferentes. Vamos explorar essa questão com base no que sabemos da mecânica celeste.
É possível que todos os oito planetas se alinhem?
Em termos de um alinhamento geométrico perfeito, onde todos os planetas formem uma única linha reta em relação ao Sol, a resposta é praticamente não. Segundo Jean Meeus, autor de Mathematical Astronomy Morsels, um alinhamento desse tipo é incrivelmente raro e só ocorreria a cada 396 bilhões de anos. Para se ter uma ideia, o Sistema Solar tem apenas 4,6 bilhões de anos e o Sol se transformará em uma gigante vermelha dentro de cerca de 5 a 6 bilhões de anos, muito antes de esse evento teórico poder ocorrer.
Por que é tão raro?
Inclinações orbitais:
Os planetas orbitam o Sol em planos ligeiramente diferentes. A eclíptica é a média desse plano, mas cada planeta tem uma leve inclinação em relação a ela. Isso significa que, mesmo quando os planetas estão do "mesmo lado" do Sol, eles não estão exatamente alinhados.
Períodos orbitais diferentes:
Cada planeta tem um tempo diferente para completar sua órbita ao redor do Sol. Mercúrio, por exemplo, leva apenas 88 dias terrestres, enquanto Netuno demora 165 anos. A coincidência de todos eles estarem na mesma posição relativa ao mesmo tempo é extremamente improvável.
Deslocamento tridimensional:
Mesmo que pareçam próximos ao longo de uma linha em um plano bidimensional (como na eclíptica), os planetas estão em posições espaciais muito diferentes em relação uns aos outros.

*Os planetas clássicos são além da Terra, Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter, Saturno.
Referências
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