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Comunidade astronômica e o SETI atualizam o protocolo oficial para o caso de primeiro contato!

O astrofísico soviético Ióssif Shklovsky e seu colega americano, o astrônomo Carl Sagan, em seu livro "Intelligent Life in the Universe" (1966), refletiram sobre como o primeiro contato da humanidade com uma inteligência extraterrestre poderia se assemelhar ao encontro de duas culturas em diferentes estágios de desenvolvimento tecnológico.


Notícia

Por Lyubov C. (Любовь С.) da agência Naked Science

Traduzido e adaptado por Marco Centurion


O primeiro documento oficial, descrevendo o princípio de ação em caso de possível contato com uma civilização extraterrestre, foi adotado pela Academia Internacional de Astronáutica (IAA) em 1989. Desde então, a declaração foi revisada repetidamente, e sua versão atualizada, adaptada às realidades do século XXI, foi desenvolvida por cientistas em conjunto com participantes do projeto de busca por alienígenas SETI.


Imagem do filme "Contato" (1997)  (Créditos da imagem: Warner Bros. South Side Amusement Company)
Imagem do filme "Contato" (1997) (Créditos da imagem: Warner Bros. South Side Amusement Company)

Na história da humanidade, situações semelhantes realmente ocorreram. Em 1786, a expedição francesa de La Pérouse encontrou pela primeira vez o povo Tlingit, no Alasca. Para os nativos, os enormes navios pareciam "pássaros brancos com asas grandes", e os marinheiros lhes pareceram seres sobrenaturais que saíram de seus corpos. Cem anos depois, o etnógrafo George Emmons registrou seu relato, que naquela época soava como um mito sobre a aparição de deuses. É esse exemplo que os cientistas frequentemente citam para explicar por que a humanidade deve planejar com antecedência um cenário de comunicação com outras formas de inteligência.


Os primeiros apelos sobre a necessidade de ações ponderadas no caso de um registro confiável de um sinal alienígena "aventaram" em um relatório do centro de análises do Instituto Brookings (EUA), preparado para a NASA na década de 1960. Mas, como o documento deu pouca atenção a essa questão, em 1989 foi publicada a primeira declaração da "política pós-detecção" ("Post-Detection Policy", PDP).


De acordo com os princípios nela expostos, após a recepção de um possível sinal de origem extraterrestre, ele deve ser confirmado por meio de observações independentes, a comunidade científica e as Nações Unidas devem ser notificadas, e deve-se evitar declarações precipitadas e ações de resposta. Em 1995, um item sobre possíveis mensagens de resposta foi adicionado ao documento, e em 2010 ele foi adaptado para a era digital.


Como nos últimos 15 anos os pesquisadores aprenderam a buscar "tecnossinaturas", ou seja sinais potenciais de atividade de civilizações extraterrestres, como por exemplo, sinais de rádio, anomalias térmicas ou impulsos a laser, em outubro de 2025, cientistas do Reino Unido, EUA, Canadá, Países Baixos e Austrália, com o apoio de participantes do projeto SETI, apresentaram uma versão atualizada da declaração. Os resultados do trabalho de três anos foram publicados no servidor de pré-impressões da Universidade Cornell.


O documento é particularmente importante no contexto do ambiente midiático moderno, ou seja, nas redes sociais ou notícias falsas se espalham em segundos. Em particular, relatos recentes sobre o terceiro objeto interestelar 3I/ATLAS mostraram a rapidez com que as notícias científicas se transformam em sensacionalismo. Embora a natureza do segundo cometa interestelar seja realmente incomum e os cientistas não possam excluir 100% sua origem artificial, as manchetes da mídia mundial estão repletas de relatos sobre uma invasão alienígena.


É por essa razão que a versão atualizada da declaração enfatiza a transparência, a integridade científica e a ética na comunicação. Os autores ainda destacam que relatos sobre possíveis sinais de origem extraterrestre devem ser acompanhados de explicações que indiquem o grau de incerteza e a verificação dos dados deve ser o mais aberta possível para permitir a validação independente.


O documento também inclui disposições sobre a proteção dos pesquisadores envolvidos na análise de potenciais sinais, o armazenamento de informações em fontes abertas e arquivos. Um item separado é dedicado à tomada de decisões sobre uma possível resposta, esta última só deve ser tomada após consultas internacionais sob os auspícios da Organização das Nações Unidas.


No entanto, a declaração não pode ser considerada um documento jurídico. Ela apenas estabelece um padrão moral e profissional para a comunidade científica mundial. Em essência, é um código de conduta para o caso da maior descoberta na história da humanidade. A adoção da versão atualizada está prevista para 2026, após a aprovação pelo Conselho de Curadores da Academia Internacional de Astronáutica.


Contudo, mesmo que continuemos em nosso orgulhoso isolamento cósmico, sem nunca captar um sinal alienígena, o próprio fato da existência de tais princípios mostra o quão seriamente os cientistas encaram essa possibilidade. No final das contas, a tentativa de estabelecer contato com uma inteligência extraterrestre reflete nossa capacidade de agir de forma responsável e significativa diante do desconhecido.


A propósito, no famoso romance de ficção científica "Contato" (1985), Carl Sagan descreveu o cenário mais plausível para a detecção de alienígenas, bem como a reação de toda a humanidade a ele. Esta última, infelizmente, mostrou-se triste.



Artigo encontrado no site da agência de divulgação científica russa NakedScience.ru  (originalmente publicado em 19/10/2025)

 
 
 

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